Cronologia dos fatos
Em fins de novembro de 2012 eclodiu
no país mais um escândalo envolvendo a administração do PT; o caso apelidado
por “Rosegate”. A chefe do escritório da Representação da Presidência da
República no estado de São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, foi indiciada pela
Polícia Federal por corrupção e tráfico de influência. Descobriu-se, depois,
que referida servidora também substituía a primeira dama nas viagens
internacionais de Lula, sempre que D. Marisa Letícia não o acompanhava.
Soube-se, também, que, desconfiada da relação do marido com Rose, D. Marisa
checava se o nome da rival constava da comitiva oficial. Para contornar o
“problema”, Rose viajava para o exterior acompanhando o presidente (chamado por
ela, na intimidade, de “PR”), recebendo até diárias, mas de forma clandestina
(sem estar registrada nas listas de passageiros e dos integrantes da comitiva –
esta, fornecida pelo Ministério das Relações Exteriores – e sem publicação da
autorização para viagem ao exterior – necessária para qualquer servidor público
federal que viaje a serviço – no Diário Oficial da União – D.O.U.). Em resumo,
a sociedade passou a sustentar a amante do presidente da república, via emprego
público, e esta se utilizou do cargo e do “compartilhamento de lençóis” para
colocar em cargos públicos de interesse de seu grupo corrupto pessoas por ela
indicadas ao “PR”.
Rosemary, Lula e
D. Marisa Letícia
Até
hoje à sociedade são
omitidas
informações atualizadas sobre o caso (que possuem versões ainda muito
mais
escabrosas circulando pela mídia – em especial no AlertaTotal),
nem Lula vem a público esclarecê-lo (talvez por que não haja mentira
que possa
convencer a opinião pública).
Em
17 de fevereiro e em
1º de abril
deste ano foram feitas manifestações em Porto Alegre, capital do estado
do RS,
contra o aumento das passagens de ônibus urbanas. Nada diferente de
manifestações similares ocorridas no passado, em diversas capitais
brasileiras.
Em Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, essas
manifestações são
frequentes.
Manifestação em
Porto Alegre, em 17/02/2013
Manifestação em
Porto Alegre em 01/04/2013,
capitaneadas pelas União Estadual dos Estudantes (UEE) e União Gaúcha
dos
Estudantes (Uges)
Em 05 de março, passeata de
protesto contra o PT e Lula ocorreu na Av. Paulista, em São Paulo. A
mídia
omitiu o fato, que foi divulgado apenas através das chamadas mídias
sociais e
blogs, como o Com a Boca no Trombone.
No
início de abril foi
divulgado
índice inflacionário de março – 0,47%, fazendo com que a perda de valor
do Real
nos últimos doze meses – 6,59% - supere o teto da meta estabelecida
pelo
governo. Na média, a inflação dos alimentos – a que mais rapidamente é
percebida pela sociedade, no entanto, tem sido bem maior. E mexer no
bolso da
sociedade é algo perigoso...
Em
18 e 19 de maio
ocorreu uma
corrida às agências da Caixa Econômica Federal, teoricamente em razão
de um
efeito viral de um boato sobre eventual suspensão do Programa Bolsa
Família. A
princípio, o governo federal acusou a oposição como fonte do boato, mas
o fato
de a Caixa estar preparada para essa emergência num fim de semana
levantou
suspeitas e, depois de duas negativas e explicações não convincentes,
ficou
claro que a confusão havia sido gerada por mudanças na sistemática de
pagamento
da própria instituição, que nem seu presidente, nem a presidente da
república
(em tese) sabiam. Com o episódio, a grande massa de trabalhadores que
sustenta
esses benefícios com seus impostos e contribuições pode ver que muitos
beneficiários do Bolsa Família não tinham aparência de possuírem “renda familiar mensal de até R$ 140,00 per
capta” (vide abaixo). No Jornal Nacional – noticioso de maior
popularidade
no país – uma senhora declarou que havia recebido simultaneamente dois
meses de
benefício e, como de hábito, havia depositado o valor em sua
caderneta
de poupança (logo; não necessitando do benefício para matar a fome).
Pessoas
aglomeradas em agência da Caixa
Federal, para sacar antecipadamente seus benefícios
A
classe média começava
a se
aperceber que as denúncias da oposição tinham um quê de verdade: fora
os
verdadeiros miseráveis, que a necessitam, a Bolsa Família era mais uma
ferramenta de cooptação de votos que um programa assistencial.
No
dia 6 de junho
manifestação com a
mesma reclamação ocorreu em São Paulo, reunindo cerca de 700
manifestantes do
MPL – Movimento Passe Livre. Alguns deles depredaram bares e lixeiras
da
Paulista e espalharam lixo pela avenida. Na Treze de Maio, arrancaram
cabos de
luz e hostilizaram motoristas. Como consequência, a polícia reagiu com
o uso de
gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes.
Sobre
o assunto, entre
centenas de
notícias publicadas, o sítio ucho.info
registrou que “o violento e criminoso
protesto contra o aumento do valor da passagem de ônibus, trem e metrô
em São
Paulo foi um ato contra o governador Geraldo Alckmin e o PSDB, encomendado
pelo PT, que sonha em tomar de assalto o Palácio dos Bandeirantes
na
eleição do próximo ano. ... A ação da noite de quinta-feira (6), que
ocupou o
noticiário nacional, foi organizada com antecedência por baderneiros
políticos
que agem como se fossem mafiosos de alta periculosidade. Primeiro os
metroviários desistiram temporariamente da greve. Em seguida surgiu o
anúncio
de que algumas cidades do Grande ABC reduziriam o preço da passagem de
ônibus”.
Foi
um tiro no pé. A
partir de
então, novos grupos passaram a se articular através das mídias sociais
e o
número de participantes lentamente foi crescendo, ultrapassando os
limites dos
membros da MPL e dos baderneiros de aluguel.
A
divulgação do
resultado de
pesquisas, nos dia 8 (do Instituto Datafolha, dando conta de uma queda
de 8% na
aprovação da Presidente Dilma) e 10 de junho (eleitoral, na qual o
governador
do estado de São Paulo - Alckmin - venceria até Lula na disputa pelo
governo de
SP, com 42% das intenções de voto contra 26% do ex-presidente)
desesperaram o
PT. A estratégia de tentar reforçar a imagem do governador paulista
como
responsável pela baderna já não surtiria efeito, pois o vento da
democracia
havia espargido o descontentamento geral para todos os cantos do país.
No
dia 16 de junho, na
solenidade de
abertura da Copa das Confederações, no Estádio Nacional Mané Garrincha,
em
Brasília, a presidente Dilma Rousseff foi vaiada por mais de 60.000
pessoas
presentes, por três vezes: quando o presidente da FIFA, Joseph Blatter,
a citou
nominalmente, quando ele, espantado com a vaia, cobrou “far
play” da plateia e, por fim, quando a própria presidente falou
ao microfone. Era o prenúncio de que havia algo no ar...
E
tinha! O dia 17 de
junho culminou
com manifestações em 12 capitais do país – São Paulo (cerca de 65.000
manifestantes), Rio de Janeiro (cerca de 100.000 manifestantes),
Brasília,
Goiânia, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Natal, Belém,
Florianópolis,
Porto Alegre e Curitiba, além de em outras cidades do interior.
Ocorreram casos
de vandalismo, sempre praticados por pequeno número de vândalos -
máximo de 300
a 500, no Rio de Janeiro. Deixo de postar fotos das depredações, embora
tenham
gerado grandes prejuízos, por dois motivos: I. Por ter sido praticado
por uma
minoria absoluta dos manifestantes e II. Para não valorizar nem
estimular atos
de tão baixo valor moral, sem qualquer comprometimento com o país, como
os
praticados pela grande massa que participou das manifestações.
São Paulo - Av.
Paulista
São Paulo - Av.
Paulista
São Paulo
São Paulo
São Paulo - MASP
São Paulo - Av.
Brigadeiro Faria Lima
Rio de Janeiro -
Av. Rio Branco
Salvador
Brasília –
Congresso Nacional
Brasília –
Congresso Nacional
Belo Horizonte -
Av. Antônio Carlos
Curitiba
Curitiba
De pequenos manifestos
contra o
aumento das passagens de ônibus urbanas, inflados com a infiltração de
baderneiros de aluguel, o movimento agigantou-se, passando a ser uma
grande
manifestação multifocal, com os mais variados objetivos: contra o
aumento das
passagens de ônibus, contra a corrupção, a favor do aborto, contra a
discriminação sexual, contra a classe política, contra a reação
policial, a
favor da liberação das drogas, contra os gastos desmesurados com a
realização
da Copa do Mundo de Futebol, que poderiam ser usados para melhorar os
sistemas
de saúde, educação e segurança pública, contra a aprovação da PEC 37,
contra a
elevação do custo de vida e por aí vai. Com um detalhe: sem vinculação
a
qualquer partido político (muito embora o PSTU e o PSOL tenham tentado
obter
ganhos políticos levando suas bandeiras às passeatas).
Um cartaz traduziu bem o
sentimento
dos participantes: muitos foram os motivos e o aumento das passagens de
ônibus
era apenas “a gota d’água” (que fez o copo transbordar):
Ficou claro que embora
político, o
movimento era desprovido de cores partidárias. E, muito embora o amplo
espectro
das demandas e protestos, ele tinha, sim, uma essência: o aumento do
custo de
vida, a corrupção e a má administração do país, com críticas
contundentes às
prioridades do governo federal na aplicação de seus recursos.
Cabe
aqui um adendo: há
tempos que é
noticiado que os gastos públicos com a construção/reforma de arenas que
irão
sediar a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de Futebol – ambas da
FIFA,
ultrapassaram em muito os valores inicialmente orçados (e que já eram
gigantes!). Por exemplo, o Estádio Nacional Mané Garrincha, orçado em
R$ 696
milhões, deverá alcançar desembolsos de R$ 1,6 bilhão. O Maracanã,
orçado
inicialmente em R$ 705 milhões, teve seu orçamento reajustado para R$
931
milhões e os desembolsos totais deverão atingir R$ 1,12 bilhão. A
sociedade
também se pergunta se não haveria destinação melhor para os US$ 2,17
bilhões
emprestados de forma secreta para Cuba e Angola ou os R$ 1,5 bilhão
perdoado
para países africanos (República do Congo, Costa do Marfim, Tanzânia,
Gabão,
Senegal, República da Guiné, Mauritânia, Zâmbia, São Tomé e Príncipe,
República
Democrática do Congo, Sudão e Guiné Bissau), política não praticada,
por
exemplo, com os 350 mil inadimplentes do semiárido do Nordeste, que
sofrem com
a falta de chuvas.
Paralelamente
aos
desmandos do Poder
Executivo nacional, o Congresso Nacional também tem sido fonte
frequente de
intranquilidade para o povo brasileiro, com propostas de emenda à
Constituição
Federal – PECs – que visam à ruptura da harmônica divisão de
competências entre
os três poderes da república ou à dificultação das investigações
criminais,
como, por exemplo, a PEC 33, que submete ao Congresso Nacional decisões
do STF
sobre ADINs - Ações Diretas de Inconstitucionalidade, e a PEC 37, a
qual, se
aprovada no próximo dia 26, retirará do Ministério Público, da
Receita
Federal e do Banco Central a capacidade de investigarem crimes
no âmbito
de suas searas.
Não
considero, nesta
análise, o
desmonte financeiro da Petrobrás, visto que é assunto pouquíssimo
conhecido
pela sociedade em geral e, portanto, não teria o condão de engrossar o
caldo
dos descontentamentos com a administração petista.
As
publicações nos blogs
e mídias
sociais também davam uma pista da essência do movimento, o fio condutor
que
continua engrossando o caldo das manifestações:
Por ironia da vida, os
jovens de
hoje usaram antigas frases de músicas de Chico Buarque e de Geraldo
Vandré para
contestar o governo de esquerda instalado no país...
A
repercussão das
manifestações na
sociedade foi positiva. Hackers – como Anonymous, AnonCyber e
CyberGhost –
prestaram “solidariedade às manifestações de rua realizadas em várias
cidades
do Brasil na noite de segunda-feira” realizando uma série de invasões e
ataques
de negação de serviço contra sites públicos e perfis de autoridades nas
redes
sociais, preferentemente àqueles ligados à Copa do Mundo. Até pessoas
de idade
se manifestaram, seja indo para a avenida, seja postando seu apoio nas
mídias
sociais: (pule os espaços vazios que surgirão daqui para a frente)
Idosos em Porto Alegre
Na Av. Paulista,
Em São Paulo
Os
dias seguintes foram
uma
repetição do dia 17, com número pouco menor de manifestantes, mas em
muitas
mais cidades brasileiras envolvidas. Aliás, até em Londres e em Lisboa
ocorreram manifestações de apoio! Registre-se que a gama de motivações
alargou-se, havendo cidades que sequer reclamaram do valor das
passagens de
ônibus urbanos.
Tão plasmado está que a motivação é ampla e centrada nos tópicos anteriormente listados, que a própria presidente da república fez, dia 18, um pronunciamento à nação sobre o assunto. Foi feliz em diagnosticar as questões que estão a desagradar à sociedade, mas passou longe de um “mea culpa” pelo estado de coisas:
Tão plasmado está que a motivação é ampla e centrada nos tópicos anteriormente listados, que a própria presidente da república fez, dia 18, um pronunciamento à nação sobre o assunto. Foi feliz em diagnosticar as questões que estão a desagradar à sociedade, mas passou longe de um “mea culpa” pelo estado de coisas:
Trata-se
de fenômeno
político-social
interessante. Desde o impeachment do então presidente Collor que a
sociedade –
os jovens, principalmente – não ia para as ruas demandar mudanças em
tão
expressivo número de pessoas, nem em tão diversificados pontos do país.
Por
mais de década os
cidadãos
insatisfeitos com os rumos do país criticavam a passividade bovina de
nossa
sociedade, que nada fazia para reverter esse estado de coisas. Eis que
de
repente manifestações localizadas em pontos diferentes do país, com
foco único
no aumento das passagens de ônibus, tiveram o condão de despertar “o
gigante
adormecido em berço esplêndido”. Provavelmente tenha sido o fenômeno da
“gota
d’água”.
Atônitos com os
acontecimentos,
prefeitos de diversas cidades do país foram rápidos em anunciar redução
no
preço das passagens. Terão essas providencias a capacidade de amainar o
espírito contestatório da sociedade, agora que as demandas são
múltiplas e bem
maiores que os “vinte centavos”?
Até
quando irão as
manifestações não
se sabe. Quaisquer mudanças que venham a ser implementadas agora serão
cosméticas. Mudança para valer, mesmo, só poderá ser obtida se esses
mesmos
manifestantes mudarem sua forma de votar, nas próximas eleições:
consciente,
sem eleger candidatos com passado duvidoso. É o que se espera.
A sociedade quem “passar
a limpo” o
Brasil. Agindo de forma ordeira e organizada isso é possível. Vamos
lavar essa
sujeira que nos faz perder o orgulho de sermos brasileiros!
Por
fim, há que se
separar o joio do
trigo. A fração ínfima de baderneiros não pode continuar pondo em risco
a vida
de terceiros, nem agredir a polícia, tampouco dilapidar o patrimônio
público e
privado.
Há
que se usar os
serviços de
inteligência, as câmeras de vídeo, as filmagens dos inúmeros órgãos da
imprensa
na identificação desses meliantes. Que deverão responder pelos crimes
cometidos. Não há “instinto de manada” que justifique esses crimes.
E
tão importante quanto
identificá-los é investigar se há partidos ou pessoas financiando esses
vândalos,
pois paira no ar a desconfiança de que por trás desses desmandos há a
mesma mão
invisível que acionou os “aloprados”. Os atos de violência teriam por
objetivo:
I) Dar motivo para a intervenção policial; 2) Desmotivar os demais
participantes, seja por medo da reação policial, seja para não serem
confundidos com vândalos; 3) Fazer com que a classe média não apoie o
movimento; e 4) Dar motivos para a mídia contestar as manifestações.
Para quem
acabou com a lavoura cacaueira na Bahia, introduzindo galhos de
cacaueiros de
Rondônia, infestados com a vassoura-de-bruxa, TUDO É POSSÍVEL!
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